Um passeio pela história do Vinho

Sílvia, Ricardo e Roberta | Foto Reprodução

Em 1983, no Bistrô, um restaurante francês que havia no conjunto Zarvos, em São Paulo, o clima era de pioneirismo. Na mesa redonda do fundo da sala, um grupo chamava atenção. Abriam garrafas e mais garrafas de vinho com os rótulos todos cobertos por papel de alumínio, pediam água e ficavam horas discutindo. O chef era camarada e deixava. Do menu ninguém lembra, mas por aquela mesa passavam preciosidades, ainda mais preciosas porque raras aqui por essas nossas bandas. Ricardo Bohn Gonçalves fazia parte desse grupo.

“Em volta daquela mesa se reuniam as pessoas que iriam construir o mundo do vinho do Brasil: Saul Galvão, jornalista, grande degustador, hoje falecido; Mario Telles, incansável batalhador que, junto com Jose Luiz Borges, Norberto Freddi e Antonio Silveira Lapa, fundaria anos mais tarde a ABS Associação Brasileira de Sommeliers; Jorge Lucki, jornalista e autoridade no mundo dos vinhos; Ciro Lila, aficionado, que mais tarde montaria a Mistral e eu”, ele conta.

Hoje ninguém estranharia, mas reuniões de degustação de vinhos simplesmente não existiam no Brasil. Adegas particulares eram raríssimas. A SBAV, Sociedade Brasileira de Amigos do Vinho tinha acabado de ser criada, em 1980. E na serra gaúcha não havia nada além de vinhos produzidos em escala caseira por imigrantes italianos.

“Havia umas três importadoras naquela época, Maison de Vin, Bruck e Casa Prata. Os rótulos eram pouquíssimos e o mercado se restringia a alguns apreciadores.”

Mas o cenário estava mudando, a demanda crescia e novas lojas e importadoras surgiram para alimentar a oferta.

Levou um tempo, no entanto, para a paixão de Ricardo Bohn Gonçalves virar um negócio. Era 1998 e o mercado de vinho daquela época ainda era totalmente diferente do que é hoje.

A ideia inicial era abrir uma escola, a WineSchool. Mas os cursos viraram degustações, que viraram jantares que viraram eventos. E a Wine School acabou se tornando a RBG Comércio de Vinhos.

“Foi ficando claro para mim que mais do que ‘ensinamentos’ as pessoas me procuravam para pedir orientação e aconselhamento diante da complexidade de um mercado que produz rótulos novos todos os dias. O foco no comércio e na ‘curadoria’ de vinho foi um desdobramento natural.”

Tomar vinhos bons e baratos é o que todo mundo quer. E até pode parecer simples. O mundo do vinho, no entanto, é cada vez mais marcado pela diversidade. São milhares de rótulos novos por ano. Escolher que vinho tomar é decisão que hoje exige pesquisa e um mínimo de dedicação, certo?

Ricardo discorda.

“Ontem, tanto quanto hoje, você aprende a apreciar vinho, apreciando vinho. Degustar é a arte de prestar atenção. Não precisa altos conhecimentos técnicos, ter viajado etc. Basta prestar atenção ao que está no copo. Mas também não é errado não prestar atenção e simplesmente beber.”

Ao contrário do que acontece lá fora, aqui no Brasil, o consumidor teve que ser educado, criado. O que era natural na Europa, por exemplo, aqui teve que ser aprendido.

Junto com o mercado, a RBG também cresceu. E chegou o momento de pensar no futuro. Ricardo trouxe as filhas, Silvia e Roberta, para trabalhar com ele.

Silvia está na RBG desde 2007, Roberta, desde 2012. Silvia e Roberta nasceram entre caixas, garrafas, rótulos e muita conversa sobre vinhos. Trabalhar na RBG foi um desdobramento natural dessa experiência.

A indústria do vinho é marcada por empresas familiares, propriedades passadas de pai para filho, métodos de cultivo e produção milenares. Essa dinâmica, no entanto, também abre espaço para a inovação.

“O consumidor hoje é mais esclarecido e conhecedor, mas o mundo do vinho, além de riquíssimo, não para de inovar. A tendência para uma vitivinicultura natural, por exemplo, é irreversível e vai introduzir novos hábitos de consumo”, avalia Ricardo.

À medida que a cultura do vinho se consolida, os aventureiros vão sendo afugentados. Ficam as empresas sólidas. Nesse cenário, Ricardo Bohn Gonçalves acredita que a prestação de serviço de excelência vai ser um diferencial.

“Em um mercado com muita oferta, todo mundo tem vinho bom. O que faz diferença é o serviço que você presta.”

Simples assim. Saúde!